TEATRO PARA DANÇAR

sábado, 20 de abril de 2013

Os Sete Gatinhos – Coragem e Reinvenção.


Cia PIGMENTUS de Rio das Ostras.

Cartaz referente à apresentação do espetáculo em
Rio das Ostras, na casa Pigmentus.
O público de Cabo Frio viu, na sexta feira, dia 19 de Abril, o espetáculo “Os Sete Gatinhos” de Nelson Rodrigues, levado à cena pela Cia. PIGMENTUS, de Rio das Ostras, trazendo mais uma tragédia urbana carioca, só que desta vez, adaptada por Marcelo Evangelista, para um contexto rural, trazendo a realidade “rodrigueana” para um rincão de alguma cidade de interior.
A coragem de mexer na obra de um grande mestre, não feriu o cânone, ao contrário, deu uma perspectiva mais próxima fazendo com que ela chegasse de forma visceral ao encontro do público Cabofriense.
De início o espetáculo começou arrastado, com um ritmo que parecia não envolver o público, embora, as primeiras imagens já mostrassem se tratar de um espetáculo de qualidade e com a marca registrada do mesmo grupo que apresentara, ha alguns anos atrás no FESQ (Festival de Esquetes de Cabo FRIO), a inesquecível esquete “Philippe Glass Compra Pão”, dirigida pelo mesmo diretor, Ritcheli Santana.
A dificuldade maior que pudemos sentir, foi a projeção da voz de alguns atores que, num teatro sem tratamento acústico adequado, como é o caso do teatro municipal de Cabo Frio, o som acaba por se dispersar nas paredes do fundo do palco, feita de tijolos. Mas o trabalho de projeção de voz é um fato corriqueiro a quase toda a nova geração de atores, que investe muito mais nos recursos corporais e não tanto na voz. Apesar disso, e entendida as limitações aparentes, o elenco se adaptou rapidamente e passou a jogar melhor com a voz, principalmente quando, o experiente ator Vivaldo Franco, no papel de Noronha, entrava em cena com sua bagagem e experiência. Ele dominou a limitação da caixa cênica e cobriu a audiência com sua bela performance, tanto vocal como de demonstração de seu personagem.
Percebemos a mão do diretor presente o tempo todo, no espetáculo, com uma linguagem sólida, Ritcheli demonstrou ser um maestro consciente de sua função, o que deu ao espetáculo uma vitalidade e conseguiu imprimir sua peculiar linguagem sem vacilar.
A cenografia era prática e multifuncional, criada por Lorenzo Prucolli, e deu para perceber uma harmonia estética entre os dois grande praticáveis que se moviam pelo palco através da manipulação feita pelos atores; e tudo coroada pela inteligente intervenção da iluminação criada por Carlão Ribeiro. Também destacamos o bem bolado uso de objetos de cena, do qual destacamos aqui, o banco de madeira que em determinados momentos contribuía para realçar momentos de tensão. Nas cenas mais próximas do final do espetáculo, Ritchelli criou uma complexa teia de marcações de cena atreladas à luz e ao posicionamento do cenário móvel, dificílimas de executar. Foi neste momento que o espetáculo criou uma bolha e perdeu o ritmo até recuperá-lo, nos momentos finais e apoteóticos do espetáculo.
Sobre o elenco, podemos dizer que estava equilibrado e com interpretações honestas. Entendemos que, quando um espetáculo exige dos atores diversas funções para realizar o propósito estético do diretor, fica mais difícil, para o elenco, dominar completamente a partitura da cena, a não ser que haja muito ensaio e uma generosa temporada com diversas apresentações, a despeito disso, afirmamos que o espetáculo foi bem sucedido por aqui com  uma platéia pulsante que fez questão de aplaudir de pé.  Fica também um destaque para o ator Paulo Barbeto, por sua ousada composição corporal e vocal na rica construção dos personagens Dr. Portela e Dr. Bordalo.
No computo geral, podemos afirmar categoricamente que o espetáculo, “Os Sete Gatinhos” conquistou o público e proporcionou  momentos muito importantes para o público presente no Teatro Municipal de Cabo Frio.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Perdoa-me por me traíres - Um espetáculo correto com pitadas de ousadia.


Grupo Casa dos Azulejos – São Pedro da Aldeia

Dia 11 de Abril de 2013, o grupo Casa dos Azulejos, de São Pedro da aldeia, nos presenteou com um momento especial para a cena teatral em nossa região. Em que pese a eterna resistência do nosso, ainda, combalido teatro, mas que, como nos filmes de zumbi estadunidenses, parece levantar  da tumba para caminhar a passos  largos em direção ao óbvio, mostrar a potente energia criativa e a capacidade ímpar que o artista local tem, para, com sua eterna teimosia, encarar os desafios, vencer as forças da escuridão, e nos iluminar com sua frágil, porém, determinada criação.
Capitaneado por Bruno Peixoto e Anna Fernanda, o grupo Casa dos Azulejos emplacou seu novo espetáculo, com uma direção segura e bem resolvida.

Foi assim que vi, entusiasmado e cheio de esperanças, e espetáculo “Perdoa-me por me Traíres”, do dramaturgo, eterno e inesquecível, Nelson Rodrigues. O trabalho trouxe uma ótima marca para o teatro de Cabo Frio como um dos grandes momentos de 2013. No palco vimos uma mescla de atores principiantes com outros já maduros e tivemos ainda a grata e boa surpresa de ver alguns momentos de conexão e até arrebatamento, mostrando que o teatro, quando feito com seriedade, tem algo pra dizer, provoca a platéia e impulsiona a arte do ator.
Nas cenas iniciais o espetáculo se revelou um pouco arrastado, com uma coreografia muito bem desenhada pelo diretor do espetáculo, Nelson Yabeta, mas inda executada de forma dispare pelos atores, mostrando claramente que alguns estavam mais bem preparados fisicamente do que outros. Também notei um certo descompasso no conjunto vocal, com falas ainda na garganta, sem aquele tradicional trabalho de diafragma que ajuda no controle da respiração e impulsiona a interpretação contribuindo para a cadência da cena. O início, apesar da falta de ritmo, não comprometeu o espetáculo, que foi crescendo aos poucos e arrebatou o público.
Marcante desempenho da atriz Anna
Fernanda, nesta cena um verdadeiro jogo
com o ator e iluminador Bruno Peixoto.
O Elenco, capitaneado por Bruno Peixoto e Anna Fernanda, foi digno e emplacou, trazendo para a cena recursos dramáticos à altura das exigências do maior dramaturgo brasileiro, Nelson Rodrigues, e em alguns momentos, tivemos o impacto de encontrar situações inesquecíveis, como aquele em que atriz Anna Fernanda, no papel de Judite, triangula magistralmente com Bruno Peixoto, no papel de Tio Raul, momentos antes de sua morte, quando ele, Tio Raul, depois de um excelente exercício do que há de melhor na arte do ator, oferece a ela o veneno.  A cena da morte de Judite traz vivacidade para um belo momento desta atriz sensível, de São Pedro da Aldeia. Fica aqui, também, um destaque para os atores Walter Ramos, com uma bela composição do personagem  “Deputado Jubileu de Almeida” e o bom desempenho do ator Johnny Vieira  no papel de “Gilberto", o marido supostamente traído”. Johnny encostou bem no personagem, dominava o texto e projetava bem a voz enquanto Walter nos deu um belo momento de humor sarcástico.
Com relação ao cenário, gostei dos objetos pendurados, sugestão de pontos de luzes que revelem os objetos (discretamente) para que eles não fiquem sem brilho, parecendo apenas decoração. O figurino estava fluido, combinando com o conjunto, dialogando bem com a luz, a maquiagem e o ritmo conquistado ao longo do espetáculo.
Quanto à proposta do diretor, Nelson Yabeta,  podemos perceber que ele reuniu três forças determinantes no seu processo criativo; A direção das cenas, o Cenário e a Trilha Sonora, esta última, marcante, durante o espetáculo. É uma direção marcada por referências estéticas  e visuais do cinema de Almodóvar, a dança expressionista de Pina Bauch, e com uma energia extra da brasilidade escancarada e pulsante na execução dos objetivos propostos, por um elenco que aceitou ser desafiado.