TEATRO PARA DANÇAR

sábado, 17 de dezembro de 2011

Sérgio Britto. A Despedida de um Ícone do Teatro


Em 2008 durante o centenário da imigração japonesa no Brasil, tive o prazer de conhecer o monumental ator Sérgio Britto. Fui à sua casa, convidado por ele, para conhecer seu rico universo de ator. Ele me mostrou sua coleção de filmes e textos teatrais. Contei para ele minha velha ambição de montar textos de Fernando Arrabal em Cabo Frio e ele interagiu comigo, falando do grande dramaturgo espanhol, que conhecera pessoalmente.  Quando soube que sou mímico, Sérgio Britto até se desculpou, disse que eu devia estar no programa dele para falar da minha arte mas expliquei a ele que também sou apaixonado pela literatura japonesa e que me sentia honrado do mesmo jeito.
Fui convidado para fazer uma participação no programa “Arte com Sérgio Britto” para ler os Tankas da poeta nipo-brasileira Mitusuko Kawai. Foi uma grande experiência e ainda que falássemos muito da literatura japonesa, passamos a maior parte do tempo trocando idéias sobre teatro, o que para mim, valeu por, pelo menos, um mês internado em qualquer escola de teatro atual. Estar em contato com um grande artista e, o que é melhor, ouvindo pessoalmente seus comentários viscerais sobre o mundo da arte não tem preço.
Na semana seguinte, durante a gravação do programa, Sérgio Britto me entrevistou várias vezes até escolher o momento certo para ser editado no programa de maior audiência da TV-BRASIL. O programa “Arte com Sérgio Britto” além de alto nível foi uma das mais belas surpresas televisivas no Brasil dos últimos 20 anos. Em seu programa semanal sobre arte, Sérgio Britto discorria sobre tudo, com um excelente roteiro, ótimos textos, a maioria escrito por ele que adorava pesquisar pautas para o programa. Humilde e curioso ele fez diversas perguntas a mim sobre a prática do Haicai no Brasil.
Em Curitiba, nos anos 80 eu já havia assistido a uma peça onde Sergio Britto contracenava com Natalia Timberg num texto sobre Bernard Shaw. Lembro de pegar seu autógrafo e, ao saber que eu tinha um nome indiano, ele escreveu a palavra “Namastê” no meu velho caderninho de autógrafos de grandes artistas.
Já em 2008, 22 anos depois de tê-lo assistido no teatro Guairá, em Curitiba, ele me falou da vocação da profissão de ator. Me incentivou a continuar e aceitar as riquezas e misérias da profissão e não deixou de lamentar o fato de tantos jovens hoje, com vocação artística, debandarem para outras profissões em busca de uma “segurança ilusória”.
Dos meus dois breves encontros com este grande mestre do teatro, ficou a lição de que vale a pena lutar pelos sonhos pessoais.


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

TRIBAL Inaugura núcleo de Artes Cênicas encenando um Auto de Natal.

Um auto de natal que junta diversos talentos da TRIBAL (Associação Tributo à Arte e Liberdade) é a primeira montagem teatral do Núcleo de Artes Cênicas da associação que congrega entre seus associados: artistas, aspirantes a artistas de diversas correntes que vão da Música popular à erudita, dança clássica, danças populares e coreografia; mímica e direção teatral, cenógrafos, figurinistas, além de poetas, fotógrafos, jornalistas, todos com seus respectivos talentos absorvidos num único produto artístico.


Com este auto de natal, a associação cria uma possibilidade/oportunidade para seus “braço artístico” levando-os a desenvolver suas potencialidades além de reciclar seu conhecimento. Uma tarefa árdua que começou a ser fomentada praticamente na época da fundação da associação e que encontrou ressonância em 2010 durante a leitura dramática de “O Santo Inquérito”, de Dias Gomes, onde o diretor José Facury, atendendo a uma demanda do Sindicato dos Artistas do Rio de Janeiro, convidou vários “tribaleiros” gerando, assim, a idéia mais direta de se fundar o núcleo.
O Auto de Natal tem a direção de José Facury que a 7 anos não montava um espetáculo com elenco grande e tantas vozes diferentes juntas. Nos últimos anos, Facury dedicou-se a montar peças mais enxutas com elencos menores e também teatro de bonecos e júri de festivais pelo Brasil a fora. Com a montagem do auto de natal da TRIBAL se afirma e passa a promover mais uma possibilidade de expansão e expressão para os artistas da cidade.




NATIVA IDADE
(Auto de natal da Tribal
Sinopse do espetáculo
Um espetáculo musicado para praças e logradouros públicos dirigido à todas as idades que conta alegoricamente a história do nascimento do menino Jesus, a partir de um casal – onde José e Maria (grávida), vindos de um roçado de cana procuram melhorar de vida em uma cidade de médio porte de características turística e industrial, até nascer sua criança. O espetáculo que utiliza diversas manifestações culturais da música e dança popular brasileira tem infraestrutura própria de locomoção, luz e som. Ao final o elenco se confraternizará com público presente formando uma roda de ciranda.
Tempo de espetáculo: 60 minutos
Ficha Técnica:
Texto de João Siqueira
Atores, atrizes e bailarinas: Christianne Rothier, Fernando Chagas, Jiddu Saldanha, Wilson Miranda, Leticia Marques, Ravi Arrabal, Tania Arrabal, Sa Soraya, Tatiana Prota e Viviane Antunes.
Músicas                                                          Ivan Tavares e José Facury Heluy
Direção Musical                                            Ivan Tavares
Coreografia                                                    Tatiana Prota e Jiddu Saldanha
Cenografia                                                     José Facury Heluy e Flávio Petinichi
 Imagens                                                         Flávio Petinichi e André Amaral
Sonoplastia e luz                                          Adriano Chagas
Contra regra                                                   Raquel
Figurinos e adereços                                   Tania Arrabal
Direção Geral                                             José Facury Heluy
Produção: Associação Cultural Tributo à Artes e à Liberdade (TRIBAL)
Apresentações em dezembro:
Casemiro de Abreu
Praça Barra de São João, dia 17 às 21 horas
Praça da estação em Rio Dourado, dia 18 às 20 horas
Praça principal de Professor Souza, dia 21 às 20 horas
Praça Central de Casemiro de Abreu, dia 22 às 20 horas
Cabo Frio
Praça São Benedito, na Passagem, dia 23 às 20 horas
contato(022)88440321


terça-feira, 1 de novembro de 2011

A Volta do Festival de Teatro Estudantil de Cabo Frio.


Quando vim morar em Cabo Frio, em 2004, encontrei uma cidade incendiada por grupos de teatro. Lembro de ter ficado impressionado ao ver, no festival de esquetes de Cabo Frio, FESQ, um número grande de peças de teatro estrelada por artistas e grupos locais. Cenas inesquecíveis com artesãos da arte, a maioria  adolescentes e fazendo frente a artistas oriundos do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Dias depois fui saber que Cabo Frio tinha um festival de teatro estudantil que pavimentava o caminho de novos artistas na cidade tendo revelado grandes talentos.

Escola de artes de São Pedro vencedora do 1º lugar no
9º Festival Estudantil de Teatro de Cabo Frio - 2011
Ainda em 2004 fui convidado para fazer mímica na cerimônia de premiação do 8º Festival de Teatro Estudantil de Cabo Frio. José Facury, no palco, orgulhoso, apresentava o novo mímico da cidade para uma platéia lotada de adolescentes. Pois bem, aquele foi o último festival. Nos anos seguintes apenas silêncio. A cidade se abateu por uma nuvem de rivalidades políticas que passaram a ocupar os espaços da mídia local sem que os estudantes tivessem vez.
Seis anos depois (2011), sou convidado por Anderson Macleyves para fazer mímica e participar da cerimônia de premiação do 9º Festival de teatro Estudantil a entregar alguns troféus para estudantes vencedores do festival. Da platéia vi, emocionado, o ator Cesar Valentin, visivelmente tocado de emoção, fazer um discurso humilde, humano e profundo. Ele conclamou a cidade de Cabo Frio a zelar pelo retorno de um dos mais significativos eventos ligado à cultura da cidade. Havia em cada olhar um brilho especial e uma cumplicidade. Um sentimento de reconciliação.
A Menina, a Velha e o Lobo - C. M. Elza Maria Bernardo
Melhor Maquiagem.
Representantes da TRIBAL, Ravi Arrabal e Fernando Chagas, subiram ao palco e e cumprimentaram os aspirantes a artistas. Havia um sentimento coletivo de união para a realização de um dever, zelar pelo festival de Teatro Estudantil de Cabo Frio que, na minha percepção é uma obrigação de todas as forças políticas e instituições da cidade, a educação, nessas horas, tem que ser neutra, porque dela depende todo um futuro.
Jamais esquecerei as palavras de uma adolescente com os olhos cheios de lágrimas e um sorriso quase chapliniano e dizendo com  orgulho: “Tio, um dia o senhor ainda vai ouvir falar de mim”. Aquela cena foi uma das mais bonitas que já vi em meus quase 30 anos de teatro. Não era uma cena de ficção, uma encenação, era o exercício da arte se preparando para mudar o destino de alguém. Os estudantes vibravam com suas vozes doces e estridentes esbanjando sua espontaneidade indefesa. Sim, o festival de teatro estudantil voltou a acontecer na cidade de Cabo Frio.
Como diria o grande poeta carioca Tanussi Cardoso “Arte tarde do que nunca”!.


FABULAMENTE - Escola Sagrado Coração de Jesus - Melhor Cenário.

CONFIRA O RESULTADO DO


9º FESTIVAL ESTUDANTIL DE TEATRO DE CABO FRIO
INDICADOS e VENCEDORES

MELHOR ATRIZ

BÁRBARA BOY (ENTRE PAREDES) (Escola de Artes de São Pedro D’Aldeia) VENCEDORA

TAINÁ LASMAR (FABULAMENTE) (Escola Sagrado Coração de Jesus)

CAMILA TEODORO (A MENINA, A VELHA E O LOBO) (C. M. Elza Maria Bernardo)

------------------------------------------------------------------------------------------------

MELHOR ATOR

JONATHAN SÁ (A MENINA, A VELHA E O LOBO) (C. M. Elza Maria Bernardo)

ENZO VILASBOAS (ENTRE PAREDES) (Escola de Artes de São Pedro D’Aldeia)VENCEDOR

PATRICK FIGUEIREDO (III CONVENÇÃO ANUAL DOS SERES ENCANTADOS) (Escola Canto dos Pássaros)

-----------------------------------------------------------------------------------------------

MELHOR FIGURINO

BENTO, QUE BENTO É O FRADE? (C. M. Elza Maria Bernardo) VENCEDOR

III CONVENÇÃO ANUAL DOS SERES ENCANTADOS (Escola Canto dos Pássaros)

A MENINA, A VELHA E O LOBO (C. M. Elza Maria Bernardo)

------------------------------------------------------------------------------------------------

MELHOR MAQUIAGEM

III CONVENÇÃO ANUAL DOS SERES ENCANTADOS (Escola Canto dos Pássaros)

A MENINA, A VELHA E O LOBO (C. M. Elza Maria Bernardo) VENCEDOR

ENTRE PAREDES (Escola de Artes de São Pedro D’Aldeia)

-------------------------------------------------------------------------------------------------

SONOPLASTIA

BENTO, QUE BENTO É O FRADE? (C. M. Elza Maria Bernardo) VENCEDOR

ENTRE PAREDES (Escola de Artes de São Pedro D’Aldeia)

O MONÓLOGO DA AZEITONA (Curso Técnico Singular)

----------------------------------------------------------------------------------------------

CENÁRIO

O MONÓLOGO DA AZEITONA (Curso Técnico Singular)

FABULAMENTE (Escola Sagrado Coração de Jesus) VENCEDOR

BENTO, QUE BENTO É O FRADE? (C. M. Elza Maria Bernardo)



ESPETÁCULO: VENCEDORES


3º LUGAR – FABULAMENTE (Escola Sagrado Coração de Jesus)

2º LUGAR – A MENINA, A VELHA E O LOBO (C. M. Elza Maria Bernardo)

1º LUGAR – ENTRE PAREDES (Escola de Artes de São Pedro D’Aldeia)



PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI – VIVER MELHOR (E. M. Teixeira e Sousa)

Parte superior do formulário
Parte inferior do formulário

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

HOMINUS - O novo espetáculo do grupo Creche na Coxia.


Com 30 anos de existência o grupo Creche na Coxia tem uma história que enche os olhos de qualquer artista que queira levar a arte do teatro a sério. Como se não bastasse, o grupo que polemizou e questionou Cabo Frio desde a década de 80 agora goza do triunfo de ver uma nova geração de artistas fazendo um teatro crítico, ético e esteticamente ousado.


Foi assim que, no dia 22 e 23 de Outubro deste ano (2011) a cidade de Cabo Frio conferiu de perto a mais recente produção do grupo: “HOMINUS”. Um espetáculo forjado numa nova visão cênica dentro do processo criativo do grupo.
“HOMINUS” é uma criação dos 4 atores (Diogo Cavalcanti, Helena Marques, Matheus Lima e Patrícia Ubeda), que abriram mão de seus egos para viajar coletivamente na essência do teatro, indo no cerne da criação corporal para buscar registros arquetípicos que pudessem dar o tom narrativo/teatral do espetáculo.
O Resultado ficou explícito nos olhares de satisfação do público que, se por um lado, se divertiu porque viu teatro de qualidade, não perdeu o fio crítico e reflexivo que o espetáculo propunha. “HOMINUS” ganhou a simpatia da platéia e também se revestiu de responsabilidade ao levar adiante o legado do grupo Creche na Coxia.

Um teatro corporal.

Quem conhece o grupo Creche na Coxia está habituado a ver pesquisas em diversas linguagens. Teatro musical, formas animadas, teatro de bonecos e agora com mais intensidade o teatro corporal. Sim, parece redundante, já que todo teatro, em essência, é corporal, mas aqui, utilizamos o termo para afirmar que “HOMINUS” entra numa seara radical da pesquisa do corpo do ator dentro de uma identidade mais narrativa, distanciada e menos incorporada. A identidade da nova geração do grupo Creche na Cochia, ao que nos parece, aponta para um teatro onde palavra e gesto tem peso igual e/ou aproximados, saindo de um teatro discursivo na busca de novas conexões formais.
Identificamos, no espetáculo “HOMINUS” a forte presença da mímica vocal e teatral através do teatro físico com forte influência do teatro performático inglês. Natural, já que parte da partitura corporal de “HOMINUS” foi construída na LISPA (London International School of Performing Arts - Escola Intenacional de Artes Performáticas de Londres), que recebeu, em 2010, os artistas Matheus Lima e Helena Marques, ganhadores de bolsa FUNARTE para estudos naquela instituição.

Efeito Multiplicador.

O efeito multiplicador da linguagem cênica apreendida por Helena Marques e Matheus Lima merece ser citado aqui, já que, no espetáculo, os atores Diogo Cavalcanti e Patrícia Ubeda demonstraram grande afinidade com a linguagem corporal, prova de que, técnicas bem assimiladas podem ser repassadas e estruturadas na cena com artistas mais distantes das matrizes. A multiplicação da linguagem e da técnica torna viável o contato com novas formas de teatro, desde que os artistas se dediquem e se entreguem às propostas, como bem pudemos conferir no espetáculo “HOMINUS” 4 atores movendo-se habilmente num espaço cênico mínimo mas que se agigantou aos olhos do público extasiado.



terça-feira, 20 de setembro de 2011

Projeto Autonomia, uma nova onda que veio pra ficar!


O GRUPO Creche na Coxia de Teatro apresenta, nos meses de setembro e outubro de 2011,  o Projeto “Autonomia Artística”, na cidade de Cabo Frio.
Durante os dois meses, o município de Cabo Frio receberá uma série de eventos culturais do Projeto do Creche na Coxia, como oficinas gratuitas para artistas locais, apresentação de espetáculos teatrais, debates, exposição de fotografias e vídeos etc.
        O Projeto teve início em agosto de 2010, quando dois integrantes do Grupo (Matheus Lima e Helena Marques) foram contemplados com a Bolsa FUNARTE de Residências em Artes Cênicas 2010, que possibilitou aos dois integrantes:  a ida a Londres para Realização do Programa Completo de Especialização no Teatro de Criação e Performance oferecido pela LISPA (London International School of Performing Arts - Escola Internacional de Artes Performáticas de Londres); o retorno ao Brasil para a troca das experiências vividas na LISPA com o Grupo Creche na Coxia, do qual fazem parte, e com  artistas brasileiros, através de oficinas.
  Após passar pelas cidades de Londres e Rio de Janeiro,  o Projeto chega a Cabo Frio oferecendo ao público a oportunidade do contato com artistas recém chegados de uma escola de artes de exelência no exterior, que oferecerão uma programação cultural variada e de qualidade dentro do município:
PROGRAMAÇÃO:
- 24 de setembro de 2011 - Noite de Abertura do Projeto (Evento para convidados)
Local: LD Artes e Eventos
- 08, 09 de outubro de 2011 – Oficina de teatro gratuita para artista cabofrienses e da região dos lagos.
Local: CRIA – Casa de Criação do Grupo Creche na Coxia
- 22, 23 de outubro de 2011 – Estréia do novo espetáculo do Grupo Creche na Coxia
(com debate entre artistas e público após a apresentação do espetáculo)
Local: Teatro Municipal de Cabo Frio
O Projeto é de realização do: Ministério da Cultura - Governo Federal;  FUNARTE – Fundação Nacional de Artes; Prefeitura Municipal de Cabo Frio; Secretaria Municipal de Cultura.
Tem o apoio da: SD Imóveis, Madereira ITA, Padaria Cecília, Galeto do Zé, Brazil Som, Super Fricarnes, Cabo Grill, Tia Maluca.
Parceria: LD Artes e Eventos; CRIA - Casa de Criação do Grupo Creche na Coxia; CLAC – Clube Livre de Arte e Cultura.
CONTATOS
Matheus Lima – Coordenador Geral
(21) 9229-4514 / (21) 7756-4457 / ID 81*99811

sábado, 3 de setembro de 2011

Comentário dos trabalhos premiados no 9º Fesq.

É isso aí, pessoal, este é o espaço do blog Teatro Possível voltado para comentar de forma específica os trabalhos que foram premiados no 9º Fesq. Esperamos com isso, estabelecer um diálogo e valorização dos trabalhos apresentados, levando em consideração  a visão crítica inspirada em diálogos com o Júri, o Público e nos debates.


Banzai
Grupo Os PathaPHísicos – RJ
Indicado ao prêmio de Melhor direção

O grupo PhathaPHísicos tem uma linha de pesquisa em comédia que a cada ano vem sendo mais reconhecido pelo júri do festival. Um estilo de comedia que traz para o palco um flerte frontal com a arte cinematográfica mostrando referências poéticas e um fino trabalho de iluminação que a cada ano ganha mais corpo.
Na cena Banzai, o humor tinha uma ótima pegada nonsense e satirizou os filmes de Kung Fu. Mais do que uma simples sátira o filme fez um pastiche brincando com a cultura chinesa, japonesa e italiana, misturando estilos cinematográficos num jogo onde o público praticamente sentiu dor no diafragma de tanto rir.
Tempos de cena muito bem articulados deram vigor à cena. Tudo na cena “Banzai” é referência, desde os filmes de Tarantino até os filmes de máfia dos anos 50 e os filmes de artes marciais dos anos 70.
Apesar da excelente pesquisa, ótimos atores e bom figurino, o problema que vemos na comédia é que ela sempre nos faz rir quando é novidade. Num segundo momento, o trabalho perde vigor e as piadas parecem já não funcionar tanto. “Banzai” caiu nesta armadilha e não teve um resultado tão impactante como visto da primeira vez.

(Jiddu Saldanha)


Nem o Pipoqueiro
Coletivo Nu – Belo Horizonte
Prêmio de Melhor Esquete

Com forte dose de ironia, a cena, “Nem o Pipoqueiro” arrasta o público para o labirinto da profissão de ator, mostrando um perfil decadente e pessimista da profissão, não sem uma profunda reflexão sobre a arte de atuar.  Além de ótimo exercício cênico onde os tempos são mostrados de forma não linear, o espetáculo soube dosar a exuberância das atrizes com papéis fortíssimos e convincentes.


A cena, devido à sua forte ironia, provocou risos de desconforto na platéia e o trabalho de direção soube lidar com um tipo de ritmo criativo e inventivo, dando ao espetáculo momentos de anticlímax que resultaram num quebra-cabeça estético que se mostrou bem eficiente.
As atrizes estavam equilibradas nos papéis e a intervenção de audiovisual durante a encenação foi no mínimo, surpreendente já que mostra uma das personagens saindo do palco para comprar cerveja fora do teatro até retornar novamente à cena. A sincronização entre o real cênico e o real cinematográfico nos deu uma inteligente intervenção de audiovisual no teatro mostrando que a mescla de linguagens funciona se feito com boas idéias.
O grupo manteve o rendimento entre a primeira e a segunda apresentação o que nos fez ver, tratar-se de um trabalho consistente e bem ensaiado. Ficamos, no entanto, com a sensação de que a voz, das atrizes, se perdeu um pouco, talvez um investimento na vocalização leve esta bela cena â excelência, de fato.

(Jiddu Saldanha)

Sobre Viventes
Cia 5ª Marcha – Belo Horizonte
Prêmios:
Melhor atriz para Dayane Lacerda
Melhor esquete
Melhor direção

Dayane Lacerda - Prêmio de
Melhor atriz no 9º Fesq.
O espetáculo “Sobre Viventes” flerta com o melhor da linguagem contemporâneo sem perder o vigor poético e ético de bom teatro. Posiciona em cena dois excelentes atores (Rafael Lucas Bacellar e Dayane Lacerda) da nova geração de BH. Ambos pulsantes, apaixonados, técnicos e ao mesmo tempo passionais. Com a sensibilidade aberta para explorar, no placo, os caminhos labirínticos da arte de ator.
O esquete abordou de tudo. Além de boa literatura - pois o texto foi recriado a partir de obras de Ana Cristina César e Caio Fernando Abreu – as composições cênicas levaram ao palco um rico universo de signos para falar de dois poetas emblemáticos redescobertos por uma nova geração de diretores, cineastas, dramaturgos e por aí vai.
Na linguagem cenográfica, a disposição de objetos caoticamente organizados mostrou um ambiente de entrega absoluta e completamente mergulhado em metáfora. A fala das personagens atingiu nuances reais/poéticas presenteando o público com sentimentos de amor, compaixão e prazer. A abordagem sexual contundente fez o sensível interagir numa dimensão profundamente humana e o grupo revelou ao público sua própria capacidade de “entender” o mundo que estamos vivendo.
As bandeiras de luta, o engajamento social e a subversão da sexualidade programada pelo sistema são panos de fundo para um trabalho que produziu eco entre os expectadores, foram cenas com ritmo, boa voz dos atores, direção segura e até performance dentro da cena, pois, uma intervenção muito bem arquitetada pelo grupo fez a platéia dançar no palco junto com outros grupos presentes no festival, realmente, uma das mais belas cenas já vistas na história do Fesq.
Concluo dizendo que o júri acertou em cheio ao premiar “Sobre Viventes”. Isto era esperado pela platéia. Um espetáculo que conseguiu bons resultados não só pelo impacto do ritmo e do contexto mas também pela profundidade com que calou no coração de cada expectador ali, presente, naquele momento.

(Jiddu Saldanha)


Acontecia em 1950
Cia Duplos - BH
Prêmios: 
Melhor esquete pelo Júri Oficial
Melhor esquete pleo Júri Popular

No 9º Festival de esquetes de Cabo Frio, (Fesq)  um trabalho focado no teatro físico chamou a atenção do público. Cenas como esta já era apresentada pelo grupo local “Os Intrusos”  com uma pesquisa voltada para o Clown, utilizando riquíssimos recursos da palhaçaria teatral, já a Cia Duplos, trouxe uma linguagem toda focada na partitura corporal oriunda das escolas européias de mímica teatral e/ou teatro físico. O trabalho mostrou atores habilidosos, treinados dentro de uma concepção de teatro de vanguarda onde o resultado é divertido, embora descritivo.
"Acontecia em 1950" Cia Duplos. Prêmio de melhor esquete no 9º Fesq.
O grupo escolheu como tema central um quadro do Pateta, animação da Disney, provavelmente de 1950, que dá título ao esquete. “Acontecia em 1950”.
Adaptado de forma inteligente, mas com o arcabouço dramatúrgico bem similar ao filme da Disney. 
Em cena, os atores executaram de forma divertida e com nuances sutis a linguagem mimo-teatral de forma bem inteligente, com ritmo de desenho animado e gostoso de se ver. Sem dúvida um trabalho com efeito cômico que produziu resultado imediato levando a platéia ao encantamento imediato.
Mas uma das reflexões que quero fazer aqui é a escolha do tema e o propósito do elenco e da direção, ao executar algo inspirado em PATETA. Obviamente, que, de forma bem humorada o tema cai bem nos dias de hoje, principalmente no Brasil, onde o trânsito mata mais do que na guerra do Iraque, Afeganistão e Líbia, juntos.
A abordagem cômica e ilustrativa, recheada de humor e perfeccionismo coloca o problema sem discuti-lo. Uma dificuldade, talvez, deste tipo de teatro que surgiu, principalmente, muito mais como técnica para o ator do que propriamente para uma ação dramatúrgica mais contundente. Ainda falta, no teatro físico, um trabalho dramatúrgico mais aprofundado e mergulhado na realidade universal brasileira. Cada novo grupo que surge nesta área, acaba repetindo um padrão de composição muito adotado na Europa, principalmente pelos grupos espanhóis e ingleses.
Mas ainda que ausente de uma dramaturgia mais aprofundada o grupo Cia. Duplos tem o principal: Formação coletiva, nível técnico, empatia e Capacidade. Falta apenas, talvez, uma pesquisa mais aprofundada para construir trabalhos mais originais. Vamos esperar o próximo trabalho deste promissor grupo de atores mímicos, ou Teatro Físico, como queiram ser chamados.

(Jiddu Saldanha)

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Diário do FESQ (Festival de Esquetes de Cabo Frio) - 2011



O tema: “Sustentabilidade” tem no corpo de voluntários o melhor do melhor. Material humano de primeira com pessoas novas chegando e pessoas que já fazem parte da história deste festival. O FESQ é conhecido também, por exportar seu modelo para outros festivais do Rio de Janeiro.
O teatro Municipal de Cabo Frio esteve com 80% da casa cheia, um marco histórico para uma terça feira à noite, afinal, para se ter um público assim, de forma espontânea é preciso ir muito além do improviso e partir para a produção profissional. O segredo do Festival de Esquetes é, sem dúvida, a formação de platéia e um corpo de voluntários antenados e apaixonados pela arte do teatro. É um festival que tem pedigree, afinal, mostra uma forte capacidade de mobilização.
Apesar da falta de financiamento para pagar custos pesados e uma logística complexa, este evento traz para a cidade de Cabo Frio uma jovem geração de artistas que muito em breve estarão, alguns, fazendo sucesso nas principais casas de espetáculo do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e outros estados.
O FESQ é um grande presente para a Cidade, pois forma platéia para teatro, contribui para dar sentido à vida dos jovens e, com certeza, tem papel importante na diminuição da violência além de contribuir para a precária economia da cultura por aqui.
Acompanhem aqui, no blog, Teatro Possível, o que vai rolar no FESQ para os próximos dias.

Dia 24 de Agosto de 2011 – Segundo dia de muita diversão.
Uma das tendências do FESQ (Festival de Esquetes de Cabo Frio) este ano é, sem dúvida, a presença de comédias. A Comédia é um gênero de teatro muito forte no Rio de Janeiro, um estilo de teatro que a cidade exporta para todo o país, criando tendências e influenciando a cena popular, desafiando o ator a tornar sua performance sedutora aos olhos do público.
Mas, claro, a presença do teatro engajado estava lá, firme e forte. O teatro de protesto na versão 2011 mostra uma geração antenada discutindo a problemática da existência humana. A inquietação, as bandeiras de luta para questionar a trama social e recriar paraísos aqui na terra. Teve de um tudo.
O Apresentador, Rodrigo Rodriguez, definitivamente mostrou porque é imbatível sua presença na frente do palco, desviando a atenção do público para o prazer da arte sem cair na armadilha da competição.
A Oficina do fotógrafo Alexis Malabi, comendo solta, com gente clicando o festival de todas as pontas possíveis e carismática atriz mineira, Mariana Jacques, dando um toque na cena contemporânea, trazendo a grande novidade do teatro nos últimos 10 anos. O Solo Narrativo, gênero estético que consagrou Júlio Adrião, o mestre da atriz.
Nos debates, o couro comeu, Fábio Fortes e Vivian Sobrino, este ano, trouxeram força e energia, com uma contagiante paixão pelo teatro que está dando o que falar, artistas saíram de olhos brilhando com tanto aprendizado e troca democrática de um conhecimento que, hoje, já não é mais apenas um privilégio dos artistas medalhões da mídia. O teatro popularizado no Festival de Esquetes mostra como sua prática se tornou possível, apesar dos pesares.
Na frente do teatro; antes da coisa toda começar, Alexandra Arakawa e Manu Castilho botando pra quebrar na Mais Ratona, a deliciosa maratona fotográfica, mostrando as obras dos fotógrafos de Cabo Frio.
No arremate, e já esquentando os gogós, a Casa da Poesia de Arraial do Cabo trouxe a literatura para a fila de entrada do teatro, simplesmente um diferencial onde o público, enquanto aguarda, se delicia com a poesia de Vitorino Carriço, um mestre da palavra! Cadê você, Zé Antônio? Cadê você, Rodrigo Poeta, a fila ta parada esperando os artífices da palavra de Cabo Frio, borá lah!

Dia 25 de agosto de 2011, experimentalismo, sofisticação e caos poético.
Momentos de “tensão poética”, com cenas diversas e estéticas variadas.  Podemos dizer que o Fesq (festival de esquetes de Cabo Frio) são vários festivais dentro de um único festival. Além de mostras com variedades artísticas locais.
A presença do experimentalismo na comédia é uma das grandes novidades do Fesq este ano, além do retorno do teatro engajado que, embora, ainda seja visto como “panfletarismo”, a nova geração vem trazendo um teatro político de grande poder comunicativo e empatia com o público.
Discussões em torno da violência urbana, diversidade sexual e cidadania estiveram nas entrelinhas de alguns trabalhos e escancarados em outros. A noite do dia 25 de Agosto mostrou, como sempre, a diversidade de linguagem estéticas com variedades de atores de diversos naipes e correntes de pensamento do teatro.
Foi também uma noite de consagração do apresentador Rodrigo Rodrigues, que, com sua verve artística e imensa capacidade de improvisar, arrebatou o público com tiradas de grande fôlego humorístico mas não menos reflexivo. Por traz da personagem  “infantil”, Rodrigo, arrasou, sempre de forma humorística, mostrando as mazelas de uma infância completamente “perdida”.
Foram momentos de encantamento, reflexão e muita adrenalina no palco, mostrando que a arte de ator segue com grande poder comunicativo e muita empatia com a platéia crítica e formada já há 9 anos, pela diversidade do Fesq. Um dos mais importantes festivais de cenas curtas do Brasil.

Dia 26 de Agosto, uma noite com muitos artistas iniciantes.

Trabalhos não tão maduros com artistas iniciantes foi praticamente o mote da ultima noite do Fesq, antes da classificatória final das peças escolhidas pelo Júri. A apresentadora da noite foi Monayra Manon, personagem do genial ator Rodrigo Rodrigues que já apresenta o evento pelo quarto ano consecutivo. Monayra deu um show, como sempre, desta vez trazendo uma grande novidade, parte do seu figurino criado por Nicolle Loup, especialmente para ela.
Após a apresentação das esquetes tivemos a exposição dos resultados do Júri, como sempre, tensão na platéia muita gente feliz algumas pessoas tristes, o resultado nunca é uma unanimidade mas o Júri é soberano na sua decisão.
A surpresa, talvez, foi o fato de ter 3 comédias na final, realmente, um resultado diferente e que consagrou, este ano, a comédia como um dos gêneros teatrais mais exibidos durante o festival. A final não teve nenhum solo escolhido pelo Júri e a própria curadoria, este ano, dentro de 28 peças, classificou poucos solos, priorizando o teatro  de grupos maiores e com números mais substanciais de atores em cena. Coincidência? Tendência? Fica a pergunta.
O trabalho voluntário dos participantes do Fesq, este ano, como em todos os outros, vem fazendo bonito e, num ritmo de muita organização, trabalham se preparam para um final apoteótico, hoje, dia 27 de Agosto de 2011, um sábado.



Dia 27 de Agosto. A apoteose!

O ultimo dia do Fesq foi emocionante, claro que esta é uma frase chavão para descrever um evento que juntou 28 esquetes com trabalhos vindos de diversas localidades do Brasil, destacando, este ano Minas Gerais e Rio de Janeiro. O festival teve o debate como um de seus pontos altos mas não faltou energia positiva, muito amor e muito humor durante todo o trajeto do festival.


Depois de uma emocionante virada na hora da premiação, onde nem todos os prêmios era o que se esperava, surpreendendo por um lado, gerando polêmica por outro, o que ficou foi a marca de um Fesq onde a comédia foi reconhecida pelo Júri atual que decidiu contemplar o gênero que veio com fortes ventos de renovação. As cenas “Banzai”, “Enjaulados de La Pasion”  e “Acontecia em 1950” tiveram tons de comédia cada uma numa trilha diferenciada de pesquisa, mas os trabalhos “Sobre Viventes” aprofundou a questão do drama, numa tonalidade ácida, desafiante mas que arrancou fortes gargalhadas do público. Já a esquete “Nem o Pipoqueiro” poderia ser chamada de comédia dramática com uma forte pegada multimídia. Apenas “Inquérito Poético” ofereceu um contexto mais mergulhado no drama. Realmente tivemos surpresas neste encontro, mas o resultado, coincidindo ou não com as expectativas dos artistas presentes, teve sua lógica própria indo na direção de trabalhos mais leves.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Cenas comentadas do FESPA.

Uma analise levemente crítica dos trabalhos apresentados no 2º FESPA (Festival de esquetes de São Pedro da Aldeia - 2011).
Estou destacando os trabalhos que, entendemos, foram o foco das discussões mais intensas na mesa de jurados do festival, alguns premiados outros não. Nesta primeira leva de comentários vamos tratar dos espetáculos “solo”, que foram destaques deste festival, pois compunham quase 50% das participações.
A tendência das cenas solistas nos festivais vem aumentando a cada ano, uma tendência que vem aumentando por diversas razões que poderemos discutir mais detalhadamente num outro tópico deste blog.


Ainda não Vó
Grupo: Ops
Autor: Manuela de Lellis e Rodrigo Rodrigues
Direção: Manuela de Lellis
Com um cenário praticável muito bem bolado (prêmio de melhor cenografia) a cena acontece de forma contundente, com um tom de comédia rasgada apenas em primeira camada. À medida que o expectador mergulha na dramaturgia descobre um trabalho com forte crítica social; ponto para o texto que surpreendeu e manteve a tensão teatral do começo ao fim.
O desempenho do ator Rodrigo Rodrigues coube bem ao papel. Com suas tiradas irônicas e carregadas de androgenia, pudemos ver em cena um artista com ótima voz e o já esperado tom cômico de sua interpretação. Uma comicidade permeada por muito sarcasmo e com improvisos enxutos que davam moldura ao texto.
A direção de Manuela de Lellis soube explorar os recursos naturais do ator Rodrigo Rodrigues, inclusive, ainda de forma tímida, jogando-o para outros desafios na arte de atuar. Se por um lado o ator é farto na arte da comédia pode experimentar uma dimensão mais técnica através de um “olhar de fora” e isto proporcionou ganhos importantes ao trabalho.
O que talvez incomode um pouco neste trabalho (ou não) é a constante provocação que o artista faz à platéia, jogando o olhar para a quebra da quarta parede. A idéia funciona e talvez jogue a cena para um estilo de teatro de cabaré, não que isso seja ruim, mas pode dar ao ator azas exageradas e fazê-lo usar as famosas “cartas da manga” o que, para um ator como Rodrigo não seria problema mas pode ferir a dramaturgia. Seria interessante, neste caso, “acorrentar” o ator e ver que o limite pode fazê-lo ir além dos limites, descobrindo as filigranas, os detalhes e a sutileza da cena.

Som dos Dias
Grupo Creche na Coxia
Elenco: Diogo Cavalcanti
Autor: William Shakespeare – Adaptação: Diogo Cavalcanti
Direção: Helena Marques e Matheus Lima
Neste esquete, deu para perceber as construções corporais, desenhos viscerais sem forma definida e com um objetivo claro cada vez que se propunha ao jogo de tensão e intenção da personagem. Através de uma movimentação quase abstrata, nada nesta cena veio de graça, tudo tinha uma definição poética que provocava o expectador. O Ator Diogo Cavalcanti (prêmio de melhor ator) conquistou o espaço cênico com sutileza milimétrica sem se intimidar.
Dirigido a quatro mãos por Helena Marques e Matheus Lima  pudemos sentir a harmonia simbiótica entre os diretores ainda que, o trabalho as vezes pareça mais um exercício do que uma cena totalmente acabada. O excesso de abstração na forma corpo-expressão pode dar um tom hermético ao trabalho jogando-o para o campo da incompreensão/sensação do público.
O que talvez possa melhorar neste trabalho é dar a ele um tom mais fechado e definido como esquete propriamente, notou-se que a cena ainda é um embrião de algo maior, um trabalho mais longo, o que pode ser uma armadilha. Definir as fronteiras e clarear a intenção em ser totalmente esquete pode ser um ganho e romper limites.

Mundo Animal
Elenco: Gabriel Sant’Anna
Textos: Contos de Antonio Di Benedetto
A percepção global de Gabriel Sant’Anna ao escolher textos de um autor latino, digo, Argentino e de alto nível literário, foi um ganho. Divulga a literatura latino-americana que, no Brasil, é tratada como se fosse uma literatura marginal. É impressionante ver como os jovens brasileiros e velhos também, estão tão voltados para a Europa e EUA e muitos ignoram completamente a literatura Latino Americana. Tirando alguns autores como Jorge Luís Borges, Mário Vargas Lhosa e Gabriel Garcia Marquez, praticamente não se conhece mais nada, talvez, timidamente, um Eduardo Galeano além dos poetas Pablo Neruda, Gabriella Mistral e Isabel Allende no quesito romance biográfico. Neste sentido podemos dizer que vimos um trabalho inovador, do ponto de vista do texto.
Já na cena, Gabriel propõe dois momentos bem diferentes: Uma cena de palhaçaria e a outra interpretada dentro de um cânone mais fechado do teatro romântico. O contato das duas formas de cena teve pouca ligação, ficaram soltas e divididas na proposta, um trabalho mais meticuloso de direção, dada a complexidade dos contos de Antonio Di Benedetto, seria bem vinda. A carpintaria teatral talvez necessitasse de uma direção mais segura, uma mão guia que desse função ao uso das linguagens possíveis aplicadas à cena.
Ficou evidente, entretanto, a extrema sensibilidade do ator Gabriel Sant’ Anna. Seu talento, sua voz, sua capacidade combativa em cena e as habilidades apresentadas para lidar com a proposta. A platéia manteve-se fria e tímida durante algum tempo e ao final não economizou aplausos, reconhecendo estar diante de um ator com talento e recursos para fazer o teatro acontecer.


Solilóquio – Fernando Lima
Grupo: Companhia de Arte Limapolo
Solilóquio é um solo de Fernando Lima construído a partir da obra de  Williams Shakespeare, mais precisamente, Hamlet. Com direção do próprio ator.
Sua entrada em cena é marcada pela presença de 4 mulheres na platéia segurando velas de forma quase imperceptível. Uma vez localizadas vemos surgir a figura do ator que se apropria do palco mas sem uma luz teatral costumeira. Não há foco direto, nem “pino”, nem “geral”. A cena permanece num semi-escuro com apenas 20 por cento de “foco”.
O desempenho do ator Fernando Lima foi satisfatório, com voz focada e intensa dando ritmo à cena e canalizando o ouvido absoluto da platéia numa interação bastante positiva. O público sentiu a presença e participou de um bom ritual cênico.
A iluminação do espetáculo, ainda que fosse uma proposta de direção, atrapalhou o que poderíamos chamar aqui de “Características expressivas do ator”. Se por um lado sua voz brilhava num ambiente semi-escuro, ficou difícil para o público concentrar-se nas técnicas de interpretação.

Pequena Morte – Texto, direção e atuação: Hugo Barrylari
O Solo teatral Pequena Morte teve um bom desempenho do ator Hugo Barrylari que demonstrou uma “pegada” de ator em cena muito firme.  A princípio havia um ambiente de dispersão no teatro e Hugo soube lidar com o momento trazendo o público para o foco de sua cena.
O esquete “Pequena Morte” teve momentos de comicidade  voltadas para o teatro do absurdo dando à encenação um caráter mais contemporâneo o que ajudou a cena a se inscrever numa forma mais atual de se fazer teatro. Com isto o ator lançou mão de uma boa oportunidade para mostrar sua habilidade e intimidade com o texto.
Teve um bom figurino, desenhos de cena bem interessantes. Odestaque  do trabalho foi o texto, tanto que recebeu premio. O texto ofereceu recursos dramáticos que justificaram atitudes cênicas bem interessantes deu energia para a direção e equilibrou todo o contexto.
Como ator, Hugo foi razoável, teve momentos brilhantes como diretor e destacou-se como dramaturgo. Fica aqui a sugestão para que não pare de escrever bons textos para teatro.

A História das Invenções
Direção e Interpretação - Yuri Vasconcellos
Texto - Monteiro Lobato
Yuri Vasconcellos demonstrou grande desempenho ao levar à cena um trabalho com força poética e uma narrativa de texto bem rica. O trabalho corporal demonstrou potencial com desenhos de cena inesquecíveis, tanto que, no primeiro dia seu trabalho se destacou como a preferência do público.
O trabalho apresentado esteve com excesso de ritmo e pausas ainda pouco exploradas; isto foi o que mais dificultou seu desempenho. Algumas vezes, o entendimento das transições corpo/texto confundiu o público.
O trabalho de direção aponta para um belo caminho. Cenas de frente e fundo muito bem exploradas com tonalidades ricas e abrangentes. Yuri demonstrou segurança e soube lidar de forma inteligente com o espaço cênico.
Esteticamente, Yuri entra numa bela ceara do teatro contemporâneo, o solo narrativo, que tem hoje no Brasil grandes destaques como: Augusto Pessoa, Júlio Adrião e a inconfundível e eterna Denise Stoklos. 
Ao lado da atriz mineira Mariana Jacques, Yuri passa a configurar uma nova geração de artistas que estão começando a olhar com mais carinho para o teatro narrativo.



Laura
Grupo: ARTECORPO Teatro e Cia.
Autor: O Grupo
Direção: Cida Palmerim e Rachel Palmerim

O Trabalho em dupla entre mãe e filha, Cida Palmarim (direção) e Rachel Palmerim (co-diretora e atriz), resultou num belo instante dramático onde converge experiência e arte cênica nos mínimos detalhes. Na cena curta “Laura”, chamou-nos a atenção não só a entrega da atriz à personagem em questão como também o “cuidado cênico” e o detalhamento necessário para avançar ponto por ponto em direção a um resultado que fixasse na percepção do público a marca indelével de uma personagem bem construída.
Com marcas simples, clássicas até, usando o tradicional triângulo e  o velho cuidado de não perder contato frontal com o público, foi exatamente isso, uma dissimulada “falta de ousadia” que fez de “Laura” um trabalho de notórias qualidades. Ao assumir a simplicidade como proposta, o grupo ARTECORPO e Cia. obteve o impulso necessário que rendeu à atriz o prêmio mais importante do teatro. Aquele em que se premia o ator.
Destaque para o bom uso do material de cena, uma cadeira que pode a qualquer momento se transformar em objeto cenográfico deu requinte e equilíbrio ao posicionamento da atriz no palco transformando o corpo da intérprete numa membrana sensitiva pulsante capaz de levar o público ao arrebatamento.
O esquete “Laura” peca apenas num detalhe: a música. O estilo musical selecionado ficou melodramático demais, colocando em risco parte importante do trabalho, pois, jogava uma linguagem visceral para um universo telenovelesco. Longe, no entanto, de comprometer o trabalho. Mas é  bom ficar atento e investigar mais a fundo um universo sonoro que possa acrescentar força dramática à cena ao invés de apenas ilustrá-la.